O sonho de Poliphilo
Clotilde Tavares | 22 de junho de 2009Há algum tempo a editora Planeta publicou o romance O Enigma do Quatro, de Ian Caldwell e Dustin Thomason, cujo enredo versa sobre a busca do significado de outro livro, o clássico Hypnerotomachia Poliphili, impresso no finalzinho do século XV. Apaixonada que sou por temas medievais e por livros, corri a adquirir o tal romance. A ação se passa no campus de uma universidade americana, mas o enredo é mal construído, confuso e, antes da metade eu me perdi irremediavelmente nas imperfeições do estilo e terminei por passá-lo adiante, sem terminar de ler.
Mas o livro teve a virtude de me apresentar esta espetacular obra, a Hypnerotomachia Poliphili, cujo título quer dizer “O Combate de Amor de Polifilo num Sonho” e que conta a indecifrável e obscura história de Polifilo à procura de sua amada, Polia. A linguagem utilizada é o italiano arcaico, com intervenções gregas e latinas e enriquecido por 171 xilogravuras da escola de Andrea Mantegna.
Considerado um dos mais belos livros que existem, Hypnerotomachia Poliphili foi impresso em 1499 pelo veneziano Aldo Manuzio, e representa uma revolução na arte editorial, em termos tipográficos, em relação às ilustrações e à diagramação. Sua autoria é incerta, talvez de Francesco Colonna (1433-1527), talvez de Leon Battista Alberti (1404-1472) e somente agora, depois de quase 500 anos, foi realizada a sua tradução integral.
Parte narrativa imaginária e parte tratado erudito, este livro intriga há séculos historiadores e arquitetos pelas representações de edifícios e estruturas físicas ali ilustradas; contém ainda um inflamado discurso da heroína, Polia, defendendo os direitos das mulheres expressarem a própria sexualidade, e isso escrito quinhentos anos atrás.
É um livro raro. Dele, existem menos exemplares do que da Bíblia de Gutemberg, supondo-se que haja apenas uns 200 no mundo inteiro. O único que existe no Brasil pertence ao bibliófilo José Midlin, que não revela quanto pagou pelo volume mas diz que o livro se paga cada vez que é folheado. Aliás, José Midlin doou sua magnífica biblioteca à USP em 2006; e os livros estão passando por um processo de digitalição, e vão fazer parte do projeto Brasiliana-USP, sendo que alguns já estão disponíveis na Internet. Mas isso é assunto para outro post.
Meu assunto de hoje é a Hypnerotomachia Poliphili. A raridade e o preço não nos impedem de conhecer essa obra primorosa. Antes que o projeto Brasiliana-USP coloque no ar sua edição fac-similiar, ela já é há tempos disponível aqui neste link. Mesmo que para nós seja indecifrável o italiano antigo, as belíssimas ilustrações estão lá, à disposição de qualquer criatura, para deleite dos olhos e reconhecimento da cultura renascentista que, ainda hoje, encontra eco nos nossos espíritos e na nossa memória. Vale a pena a visita.
Informação preciosa!
gracias, clotilde!
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